O Grito que Ecoa: De Político para Políticos (2025)

Em 2008, o mesmo ano em que o mundo enfrentava uma crise financeira, a política brasileira já dava sinais de uma crise ainda mais profunda. Naquela época, escrevi um artigo incisivo, “De político para Políticos!”, onde já denunciava a inércia, a corrupção e a falta de visão da classe política. Hoje, mais de uma década e meia se passou, e a essência do problema continua a mesma.

A cada nova eleição, surge a promessa de um “novo Brasil” justo e próspero. A esperança se renova, mas a realidade nos mostra uma nação onde a miséria coexiste de forma escandalosa com a riqueza de poucos. Ainda hoje, somos a crônica de um país com uma das maiores desigualdades sociais do planeta, onde as filas para a saúde pública são infinitas, enquanto os privilégios de quem está no poder são mantidos e ampliados.

Os “programas sociais” de ontem, chamados de migalhas, hoje se disfarçam em políticas públicas fragmentadas e medidas paliativas. São soluções que não resolvem a causa do problema, mas apenas geram dependência e servem como moeda de troca eleitoral.

A farra com o dinheiro público, que se manifestava nos escândalos de outrora, hoje se renova em esquemas bilionários e na farra das fraudes do INSS, que rouba recursos de quem realmente precisa. Desvios de fundos e orçamentos secretos, muitas vezes escondidos por manobras legais, persistem. O nepotismo e o enriquecimento ilícito continuam. O “toma lá, dá cá” se tornou uma arte refinada de alianças, onde o interesse público raramente é a prioridade.

Essa realidade, que parece tão atual, já era descrita há séculos pelo filósofo Nicolau Maquiavel em sua obra “O Príncipe”:

“Todo mundo vê o que você parece ser; poucos sentem o que você é. E esses poucos não ousam se opor à opinião da maioria, que tem a majestade do Estado para defendê-la.”

É comum vermos vereadores e prefeitos do estado de São Paulo se dirigindo à Assembleia Legislativa em busca de verbas. Isso acontece porque os orçamentos municipais, principalmente de cidades menores, são insuficientes para financiar grandes projetos. 

A solução é a busca por emendas parlamentares ou convênios junto aos deputados estaduais. Essa prática se torna um ciclo vicioso: o deputado “ajuda” a cidade e, em troca, obtém apoio político para as próximas eleições, reforçando uma rede de favores que perpetua o poder e desvia o foco do interesse público.

Nas obras da prefeitura, é comum vermos 10, 15 pessoas e apenas uma trabalhando. Isso acontece pela falta de uma boa gestão do dinheiro público, que fica cada vez mais inchado.  Muitas vezes, a ineficiência é resultado de nomeações políticas, onde a prioridade não é a competência técnica, mas sim o vínculo com o político no poder. Essa prática, que gasta os cofres públicos com folha de pagamento desnecessária, desvia recursos que poderiam ser usados em serviços essenciais para a população.

A velha sátira sobre os sistemas políticos, explicada de forma metafórica com “vacas”, se encaixa perfeitamente na realidade polarizada de hoje:

Socialismo: Você tem duas vacas. O governo toma uma e dá para seu vizinho. A outra é coletivizada e o leite é distribuído em cotas, insuficientes para todos. No fim, todos têm uma cota de escassez.

 Capitalismo: Você tem duas vacas. Vende uma e compra um touro. Agora tem três vacas. Um fundo de investimento compra sua fazenda e o rebanho se multiplica. Você trabalha cada vez mais, e o lucro vai para um punhado de acionistas que você nunca viu.

 Democracia: Você tem duas vacas. Seu vizinho se elege para te representar e convence a maioria de que você só precisa de uma. Ele pega a outra para si e distribui o leite para seus aliados políticos, enquanto sua metade do rebanho é destruída pela burocracia.

A lição final do artigo ainda ressoa com urgência. A verdadeira mudança não virá de slogans de campanha, discursos inflamados ou falsos salvadores. 

A responsabilidade é do eleitor brasileiro, que precisa se libertar de votos de cabresto ideológico. É preciso questionar, exigir transparência e cobrar resultados reais.

Precisamos de uma nova mentalidade. É hora de pararmos de pedir esmolas e exigirmos o que é nosso por direito: um país que respeite seu povo e invista em um futuro digno para todos, não apenas em soluções paliativas que continuam a desigualdade.

Dr. Cláudio Manoel Molina Boriola, fundador da Boriola Advocacia, atua com foco em Direito do Consumidor, Direito Civil e Direito Bancário. 

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